DEPOIMENTO 002

Oi amigas e amigos do blog FILMEBULIMIA !!! Estamos recolhendo DEPOIMENTOS de quem tem e de quem teve BULIMIA. Por favor, mande seu depoimento para nós. Estamos ecrevendo o LONGA-METRAGEM do filme e SUA história é MUITO importante! Obrigadinha!



DEPOIMENTO ESCRITO E VIVIDO POR MARINA FOGGIATO DE SIQUEIRA:




Sabe, se eu pudesse voltaria ao passado e faria tudo diferente, ela não veio por acaso eu a procurei, eu quis que ela me achasse, e não veio sozinha, trouxe junto um monte de outros problemas que até hoje eu tento resolver. Às vezes penso que nunca vou conseguir me livrar dela, parece uma droga que sempre tenta nos atacar nos momentos mais fracos...

Tudo começou quando eu era criança e me chamavam de gorda, inclusive meus pais, bem na época das festinhas quando descobria minha vida de adolescente, era difícil para eu ver todas as minhas amigas lindas magras e “desejadas” por meus colegas, nas festas que tinha na escola eu me sentia mal, pois todas eram escolhidas para dançar e eu era sempre a ultima, era como um quebra - galho. Foi então que decidi que emagrece seria a solução de tudo... Mas não foi bem assim que aconteceu...

Comecei simplesmente a não querer comer mais e fazer muitos exercícios, mesmo tendo fome eu evitava comer, saia de casa para não comer, só que isso não durou muito tempo, foi até eu conseguir chegar aos 42 kg em 2004, começo de 2005. Mas depois descobri que comer era o “prazer” da vida, comecei então a comer e vomitar para evitar engordar. Engordei um pouco, mas não muito, fiquei com 46 kg, era meu peso normal ou o que eu achava normal, eu tinha 1,60cm, minha vida girava em torno de meu peso, era uma tortura eu ver que tinha engordado... Desde o inicio eu tive acompanhamento psiquiátrico, tomava fluoxetina, mas conforme o ano passava parecia que o remédio não fazia mais efeito, cheguei a tomar 60mg, mas parecia que nem fazia cócegas.

Foi aí que eu comecei a engordar muito, não conseguia mais me controlar e vomitar já não resolvia mais, junto com tudo isso veio à depressão, não queria mais sair de casa, me achava a pessoa mais gorda do mundo... Comecei a tomar laxantes e remédio para emagrecer só que com isso tive uma infecção urinaria e engordei cerca de 10 kg. Minha mãe fazia questão de jogar na minha cara que eu comia demais e que eu ia ficar uma bola, pois eu estava realmente comendo muito, tava com compulsão alimentar, pra mim isso era pior tortura que existe emocionalmente. Pensei em varia vezes me suicidar porque não gostava de mim e para ajudar, minha mãe ficava dizendo que eu fazia isso de propósito... Toda minha família me via como uma “louca”. Já estava no fundo do poço. Consegui me controlar um pouco e dos 60 kg eu fui para os 50 kg, já que meu corpo estava em desenvolvimento eu estava com mais corpo no sentido de cintura e etc. Estava no peso normal, não me sentia tão gorda, mas eu tinha que vomitar para manter meu peso.

Nisso comecei a vomitar um pouco de sangue, minhas mãos ficavam sangrando algumas vezes, pois já não era um dedo que eu colocava, era a mão toda, meu rosto ficava vermelho parecia que ia explodir, até que uma vez tive um vazamento de sangue em meu olho...

Foi aí que eu tive uma experiência emocional na minha vida, comecei a namorar pela primeira vez, acho que era o fato de eu ser depressiva e minha família sempre me incomodar que me fez eu me apegar tanto a ele ao ponto de vê-lo como minha vida. Ele sabia que eu tinha essa doença e me ajudou muito, às vezes me dizia que ia acabar comigo caso eu não parece com isso, varias vezes ele me viu passar mal após ter tido episódios de bulimia. Nos restaurantes logo após de jantarmos eu pedia licença e dizia que ia me arrumar no banheiro, mas ia vomitar... Mas não foi esse o termino do namoro, foi outro, que era conseqüência disso, que foi o ciúme doentio de minha parte, queria ele só pra mim e tinha muito medo de perdê-lo... Quando acabamos, pra mim, foi o fim de minha vida, sofri muito, ficamos oito meses juntos, acabou dia 1 de setembro de 2007. Sofria muito chorava demais... 2008 foi o ano que eu mais sofri, fui para minha tia passar uns tempos lá para ver se esquecia de tudo, mas isso só me fez ficar mais nervosa e vomitar mais.

2009 eu achei que podia viver minha vida longe de meus pais, já que eles me faziam ficar mal, me pondo pra baixo quando me diziam que eu comia de mais e etc...

Fui para São Paulo estudar em uma faculdade interna. Sempre quis fazer veterinária, mas lá não tinha esse curso, então fui fazer pedagogia. Mas fiquei dois meses lá e comecei a ficar com muita compulsão alimentar, com isso engordei 10 kg comia e vomitava, mas toda hora que eu vomitava, eu comia depois assim não resolvia nada. Procurei alguma ajuda lá, eles conseguiram uma consulta na Unicamp, no laboratório de transtornos alimentares. O médico me receitou o topiramato 25mg, mas só me deixava ansiosa e sem sono, sendo que o efeito era para ser o oposto. Decidi vim embora, pois a cada dia que passava eu engordava mais e mais.

Voltei para casa e continuei meu tratamento com a médica de antes, mas eu não estou conseguindo emagrecer e agora vivo o mesmo pesadelo de um ano atrás, sinceramente eu não sei até quando eu vou ficar assim, odeio essa doença. E mais uma vez ela me faz desistir de meus planos. Fico mal, não consigo sair de casa, minhas roupas não me servem, e cada vez mais eu entro em depressão. Se pudesse eu teria feito tudo diferente e não escolheria esse caminho que parece não ter volta!

Hoje vivo uma vida vazia, me afastei de todos, tenho vergonha de sair de casa, não consigo ter uma vida normal, pois eu já coloquei na cabeça que não sou, parece que nunca vai ter fim, é pior que droga. Não posso ver comida que tenho que comer feito uma condenada e tenho vergonha disso. Tenho marcas deixadas por essa doença, cicatrizes em minha mão e em meu psicológico.

Por quê? Porque isso ainda me persegue. Faz cinco anos e só piora, já fiz de tudo e parece nunca ter um fim. Sofro a cada olhada no espelho, a cada lagrima sem sentido, é uma bola de neve que vai crescendo, antes era apenas vomitar, hoje é uma loucura, não só na parte física mas também no psicológico, que junto veio a depressão, que me faz uma pessoa cada vez mais triste.Eu não vivo, eu apenas existo! Não desejaria isso para ninguém, pois eu estou morrendo aos poucos.


Marina Foggiato de Siqueira

Santa Maria-RS

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